sábado, 5 de dezembro de 2009

O dia que não é o seguinte.



Hoje apresentei um seminário na faculdade sobre um tema um tanto quanto polêmico, mas que até então não havia me dado conta da gravidade das informações distorcidas, das conseqüências e dos prejuízos posteriores a tudo isso.

O seminário em questão falava de “Pílula do dia seguinte” a famosa e tão propagada “pílula abortiva” como é conhecida na sociedade.

Pois então, o que começou com uma pequena pesquisa de campo que teria de pano de fundo um referencial teórico transformou-se num verdadeiro dossiê sobre tudo a cerca do que é contracepção de emergência.

Como gosto muito da origem das coisas e busco sempre fundamentar meus trabalhos acadêmicos mostrando quem é o pai da criança fui buscar na história como isto tudo começou.

Comecei comprando um livro lançado recentemente chamado “A história da anticoncepção” para poder entender certas coisas que não encaixavam. O trabalho terminou com 92 slides, 57 páginas e uma hora e vinte e cinco de apresentação com nosso grupo composto por oito pessoas que se empenharam mesmo em fazer algo bem feito.

Então para começar classificamos que os métodos contraceptivos dividem-se em:

Contracepção ou anticoncepção – método antes do coito.

Intercepção ou contracepção de emergência – método depois do coito

Contragestão – depois do embrião iimplantado (um nome mais bonito para o aborto)

Mas o que interessa disso é realmente a contracepção de emergência.

Por que de emergência?

Por que é utilizada depois de uma relação onde não houve proteção para que não ocorra uma gravidez, como por exemplo, camisinha estourada, esquecimento da pílula, diafragma fora do lugar, descuido mesmo e estupro.

Estupro?

Sim, estupro, na verdade a pílula a principio seria utilizada para estas mulheres que foram agredidas sexualmente dando-lhe uma chance de não gestar um filho indesejado e fruto de uma violência. Ou seja, seria para casos de emergência realmente.

Mas o que aconteceu?

Primeiro a pílula foi lançada no Brasil com o nome da pílula Francesa RU-486 que é um fármaco composto de mifepristone que um antiprogestogenio causador de aborto, esta sim é a pílula abortiva conhecida na França como “pílula do dia seguinte”

Olha o que uma informação trocada pode fazer!

E por que dia seguinte?

Por que o embrião já estará implantado e tanto faz tomar no dia seguinte ou nos próximos dias que o efeito será o mesmo, ou seja, o aborto.
Mas a pílula lançada no nosso país é feita de levonorgestrel, uma progesterona sintética que age em dois momentos do ciclo, o primeiro antes da ovulação onde age impedindo que o óvulo mature, ou quando já ocorreu a ovulação, neste caso ela atuará no espermatozóide impedindo que este chegue até o óvulo, ela usará de diversos recursos desde a modificação do muco da vagina até a diminuição da mobilidade deles.

Quando o encontro do espermatozóide e do óvulo acontece a pílula perde a eficácia, não age sobre a parede do útero com foi tão propagada pela mídia e por alguns muitos profissionais de saúde, esta informação foi colocada pela cartilha do Ministério da Saúde em 2005, onde eles falam claramente que os que condenam a pílula são justamente aqueles que prescrevem progesterona para suas pacientes quando elas estão em risco de aborto. A pílula não age na camada interna do útero (endométrio) impedindo a implantação do zigoto como tanto era propagado.

A progesterona é um hormônio secretado após a ovulação e prepara o útero para o recebimento do zigoto que agora chama-se blastocisto, a pílula é uma progesterona sintética, logo não haverá motivos para acreditar que esta mesma progesterona age na camada do útero impedindo uma implantação.

E a vida começa justamente aí, quando acontece a implantação na parede do útero, antes não é vida pelo simples fato que 60% dos zigotos normalmente não são viáveis e são descartados pelo organismo sem que a mulher perceba isso.

Mas então eu posso fazer uso disso sempre?

Não, de forma alguma, o uso continuo diminui sua eficácia, por tratar-se de um hormônio e em altas doses, duas pílulas equivalem a uma cartela de anticoncepcional por que é necessário para que se altere o ciclo o mais rápido possível, já que esta necessita ser tomada o mais próximo da relação.
Mas o que mais me chamou nisso tudo, foi nossa pesquisa em uma escola onde entrevistamos 170 alunos na faixa de 15 a 17 anos e observamos uma série de desinformações que nos levaram a crer que a situação da educação sexual é bem pior do que se imagina.

Observações de jovens de quinze anos que não conhecem sua própria anatomia, mas sabem tomar uma medicação a qual não conhecem e nem sabem seus riscos.
A pílula virou rotina para aquela noite quente de sexo sem proteção, por que existe um meio de contornar a situação no outro dia e isto não era o objetivo.
Jovens que iniciam sua vida sexual sem informação alguma, a escola não oferece educação sexual, os pais muito menos, nós quando chegamos em algumas escolas fomos barrados por que “estaríamos incentivando a prática do sexo” fiquei indignada com isso!

Nós incentivando? e precisa de maior incentivo do que a televisão? As lan houses cheias de sites pornográficos para quem quiser ver? Os programas de reality show mostrando claramente um jogo de sedução por que é isso que dá audiência? Precisa de mais incentivo?

Interessante, quando alguém chega para tentar pelos amenizar os prejuízos são tratados desta forma, como “incentivadores”
Não estávamos lá para incentivar o uso do medicamento, estávamos lá para mostrar que o uso inadequado traz outras conseqüências e descobrimos muitos falando claramente de sua vida sexual como se fossem gente grande!!

O ministério da saúde distribuiu kit de emergência no carnaval de Olinda em 2008, onde continha um preservativo feminino, um masculino e uma cartela de pílula do dia seguinte, mas não colocou junto a este kit a bula da medicação e nem como usá-la, não explicou que a pilula não protege de DST e nem frisou que o melhor método é realmente a camisinha.

Por que simplesmente o que interessa é reduzir o número de abortos no país, não interessa o que vai acontecer depois, não interessa que a gravidez na adolescência cresce por desinformação, não interessa se o método é usado indiscriminadamente.
Que pena!
Uma solução para tudo isso?

Saúde Pública, que ninguém gosta de fazer por que o método do país ainda é curativista, por mais que se queira fazer prevenção. O curativismo é mais fácil e melhor de trabalhar. Mas neste caso diminuir a taxa de natalidade a custos de bombardeios de hormônios acarretará um prejuízo maior ainda incalculado e ainda não mensurado nas mulheres que o fazem. Educação sexual nas escolas que quase não existe, educação dos pais para falar com seus filhos e saber o que eles andam fazendo fora de casa.

A mulher se libertou das suas amarras que a mantiveram anos sob a custódia do homem, porém se perdeu quando se viu com tantas alternativas para se livrar de uma gestação indesejada. Prefere ser submetida a doses de hormônios todos os meses para agradar seu parceiro que não quer usar preservativo e na qual ela confia cegamente, ela se esquece que da forma que ele não gosta de usar preservativo com ela, também não usará com outra que poderá ter HIV.

E aí?

Começa outra história que ainda não tem fim...

Converse com seu filho adolescente, procure saber o que ele anda fazendo fora de casa, ensine os caminhos, não deixe que os próprios colegas tão leigos quanto eles o ensinem.

Uma boa conversa, esclarecedora, sem opressões e nem fantasias sobre a sexualidade resolvem muita coisa e evitam uma futura gravidez indesejada.

Os rapazes também precisam ser instruídos, isto não é preocupação somente das moças.

A vida foi feita para ser celebrada, desejada, querida e não para ser banalizada, relegada a um plano B.

JANE EYRE

Mãe de um pré-adolescente de 11 anos

Acadêmica de Enfermagem

Técnica de Enfermagem

Auxiliar de Enfermagem